Wednesday, September 18, 2013

"Em Busca de uma Teoria do Sentido"

Jabá da semana: acaba de sair, pela EDUC, o livro "Em Busca de uma Teoria do Sentido: Windelband, Rickert, Husserl, Lask e Heidegger", de José Resende.



O José trabalha com a questão do sentido no contexto da virada lingüística, e coloca Windelband, Rickert e Lask em diálogo com a fenomenologia de Husserl e Heidegger.

Eu ainda não li, mas, pelo que conheço do trabalho do José, certamente vale a leitura. À venda na Loja da PUC-SP, na Livraria Cultura e na Livraria Cortez.

Sunday, September 8, 2013

Scientific (sic) American

Vi primeiro na Salon: a Scientific American publicou um editorial (não-assinado), se declarando contra os rótulos que indiquem que um alimento é (ou foi) geneticamente modificado. O argumento principal deles (digo "eles", de forma genérica, pois, como disse antes, o editorial não é assinado) é o fato de eles seram pró-ciência.



Não vou nem entrar nos méritos de todas as falácias do editorial, mas acho que vale a pena sublinharmos alguns pontos das pessoas pró-rótulo (e pró-regulamentação dos alimentos geneticamente modificados) que os editores da revista tentam caricaturizar. Não vou comentar todos os pontos (nem vou comentar exaustivamente os pontos que escolhi), porque há livros e mais livros e artigos e mais artigos escritos sobre esse bê-a-bá ignorado pelos caras da Scientific American, e eu não vou explicar coisas que qualquer pesquisa rápida no Google poderia esclarecer. Mas vamos a alguns itens importantes:

1. Querer que os alimentos contendo organismos geneticamente modificados (OGMs) tenham isso indicado no rótulo (como acontece, até onde eu sei, desde 2011 no Brasil) não é ser "anti-ciência". Querer mais pesquisas (científicas!) sobre a segurança dos OGMs não é ser anti-ciência.

2. Um dos argumentos usados pelos editores é o de que há muito tempo usamos técnicas de modificação genética de alimentos. Sim, isso é verdade. Mas há uma diferença crucial entre cisgênicos e transgênicos. (A tabela contida no verbete sobre cisgênese que eu linkei aí acima é particularmente útil e interessante para entender as diferenças.)

3. Voltando ao ponto 1, querer que os alimentos contendo OGMs tenham rótulos que indiquem isso não é nada absurdo e essa exigência está ligada à noção de consentimento: mas até sem sequer entrar em questões de autonomia, liberdade de escolha e consentimento informado, parece óbvio não haver mal algum (para não dizer que há benefícios óbvios) em sabermos exatamente o que estamos comprando e ingerindo. Assim como alimentos têm rótulos com informações nutricionais e origem dos produtos (elementos que podem - ou não - servir para guiar nossas escolhas de consumo), não parece haver um mal óbvio em que se marque, por exemplo, com um "T" (como no Brasil), os alimentos que contêm OGMs. Aliás, talvez seja até melhor para os defensores dos OGMs: assim, eles poderão ter sempre a certeza de que estão comprando um alimento "científico" (sic) e não um orgânico, "produto da barbárie randômica da natureza". Minha pergunta aos editores da Scientific American aqui, seria: "Por que é que VOCÊS têm medo da ciência?" ou "Por que é que VOCÊS têm medo de que as pessoas vejam o trabalho da ciência?"

4. O que todas essas pessoas pró-OGMs que se dizem pró-ciência convenientemente se esquecem de dizer é que a ciência não é uma coisa completamente isolada, que acontece em um universo paralelo e que recai sobre a terra para salvar a humanidade. Essa tal ciência de que eles tanto falam está acontecendo aqui e agora, e ela tem implicações políticas, sociais e econômicas (sem falar ambientais!) fortíssimas. O fato de, por exemplo, sementes de grãos OGM (como milho ou soja) serem protegidos por direitos autorais e as práticas contratuais das detentoras desses direitos (como a Monsanto) gera um ciclo de dependência econômica, e promove desigualdades sociais (não apenas por conta da dependência que o produtor sempre terá da fornecedora de grãos, mas também por conta das conseqüências a longo prazo da monocultura e do esgotamento do solo). Mesmo pessoas que são pró-ciência e defendem os OGMs pelo aspecto científico podem ser contra os OGMs (ou podem querer evitá-los) por conta de suas catastróficas conseqüências que vão para além do chamado âmbito científico. Não vejo o que há de científico em uma prática irresponsável (no sentido de responsabilidade social), que escolhe só ver uma parte do problema.

5. A menina dos olhos desse pessoal que defende os OGMs é o tal "arroz dourado", que poderia acabar com a deficiência de vitamina A e com a cegueira, especialmente em regiões onde há escassez de alimentos e as pessoas são mal-nutridas. Ok. O arroz dourado até pode ajudar a reduzir esses problemas, mas ele só está aí tampando um buraco: o principal problema dessas pessoas não é a falta de ciência. O principal problema delas é falta de alimentos e nutrientes em quantidades adequadas. Enquanto o arroz dourado pode suprir a carência de vitamina A, ele não suprirá a falta de proteínas, vitamina C, tiamina, riboflavina, iodo etc. E muitas dessas populações que vivem em áreas onde há altos índices de deficiência nutricional não vivem, necessariamente, em áreas onde há escassez de plantações. O problema é que o ciclo das monoculturas (especialmente grãos - produzidos, em sua maioria, para servir de ração para animais que serão abatidos em outras regiões) não gera alimentos idealmente nutritivos, nem dá aos agricultores poder econômico suficiente para que possam comprar os alimentos que supririam suas deficiências nutricionais. Olhando o mapa de índice de deficiência de vitamina A, vemos que alguns desses países onde as pessoas mais sofrem com essa deficiência (e com desnutrição, em geral) são grandes produtores e exportadores de alimentos (Índia, Brasil, México) e são países que exportam justamente grãos geneticamente modificados, cujas sementes são fornecidas pelas grandes corporações detentoras dos direitos de comercialização dessas sementes, como a Monsanto, que é canadense. Então, a ciência está servindo para melhor alimentar a humanidade ou concentrar riquezas com a indústria (científica) de sementes de países desenvolvidos e aumentar a renda de grandes produtores e detentores de terras em países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento, em um sistema em que os único beneficiados são pessoas que nunca foram mal-nutridas para começo de conversa? Será que o nosso problema está mesmo na rejeição da ciência? Ou na nossa recusa em aceitar que estamos focando nos problemas errados?

6. É bastante fácil fazer um paralelo entre as indústrias de OGMs e as indústrias farmacêuticas: ninguém quer negar o comprometimento que elas têm com o trabalho científico. Contudo, é obviamente coerente exigir que ambas façam testes exaustivos e não-comprometidos de seus produtos antes de colocá-los no mercado. No caso de um produto farmacêutico, se nos propusermos a fazer parte de um estudo clínico de um medicamento que ainda não foi suficientemente testado, temos que dar nosso consentimento e passar por um processo de seleção, para que se certifique de que nossa saúde não seja colocada em risco durante os testes. Porque é pedir demais que a mesma medida seja aplicada aos OGMs? Quando um novo medicamento é lançado (ou um gene é descoberto), e que um laboratório farmacêutico tem a patente de um produto ou gene (e o direito exclusivo de produção ou estudo e manipulação), muitos cientistas vêm a público com críticas dessas práticas (inclusive a própria Scientific American!) e suas possíveis conseqüências para o acesso das pessoas a essas tecnologias e quem seriam os grandes beneficiários delas. Por que essa preocupação parece tão absurda aos olhos dos mesmos cientistas e membros da Scientific American no caso dos OGMs?

7. Meu sexto ponto não é um argumento, mas um experimento rápido que sugiro que as pessoas façam: pense em sua verdura ou legume favorito. Agora vá até o mercado, a feira, ou onde quer que você faça suas compras. Encontre uma versão orgânica e uma versão geneticamente modificada. Compre um de cada. Coma um de cada. Pense se você gostaria de continuar sabendo qual é qual na próxima vez que você for fazer compras ou se, realmente, tanto faz.

Monday, September 2, 2013

Filosofia e arte

Quem gosta de arte (além de filosofia) vai gostar do trabalho da Renee Jorgensen Bolinger, doutoranda na University of Southern California: ela (que também é pintora) faz retratos de filósofos(as) usando o estilo do(a) artista do período que mais tem em comum com o(a) filósofo(a) em questão.

Ela já tem a série I disponível online (pôsteres à venda no site dela e outras coisas à venda aqui). A série II deve sair em breve.