Eu fui ao delírio com o comentário. Lógico. Especialmente porque minhas primeiras aventuras filosóficas nos idos de 2003 tinham a ver justamente com Frege e sua refutação do psicologismo. "A quem interessar possa", vou citar a mim mesma, de um texto de 2005 (não-publicado):
"O psicologismo é um movimento filosófico que surgiu na Alemanha após a morte de Hegel, em 1831, quando, em reação ao antigo idealismo, a filosofia traçou seus rumos opondo-se ao caráter sistemático e abstrato do pensamento de Hegel, instituindo uma busca pelo concreto e pelo real, que se dividiu em três principais tendências: o anti-racionalismo, a teoria da ciência e o psicologismo.
"O anti-racionalismo, que tem como principais representantes Kierkegaard, Nietzsche e Schopenhauer, é um movimento que elabora uma crítica extrema aos poderes da razão. Essa reação ao pensamento que considerava o real como sendo, em última análise, racional, e a razão como sendo, portanto, capaz de conhecer o real e de chegar à verdade sobre a natureza das coisas é o que o anti-racionalismo tem em comum com as duas outras tendências já citadas.
"A teoria da ciência “é um ramo da filosofia centrado em um exame crítico das ciências: seus métodos e resultados”[1]. Esse movimento visa estabelecer o que é pensamento com base na ciência e, para tal, considera-a como objeto da reflexão filosófica. Alguns de seus representantes são Bernard Bolzano, Franz Brentano e Gottlob Frege, além dos filósofos Neo-Kantianos da Escola de Marburgo, Hermann Cohen e Paul Natorp, cujos temas eram essencialmente lógicos, epistemológicos e metodológicos. Todos eles, à exceção de Brentano, estabeleceram formas de crítica ao psicologismo.
"O psicologismo é um termo que foi usado pela primeira vez por H.J.E. Erdmann em 1866 para caracterizar a filosofia de F.E. Beneke. Este conceito, porém, é um conceito crítico que, na verdade, tem como termo originário o “anti-psicologismo”. Fato é que os chamados autores “psicologistas” não se autodenominavam desta forma, mas foram assim classificados pelos anti-psicologistas. Possivelmente, o primeiro autor a usar este conceito em sentido crítico (como tendência a se fundar a lógica na psicologia) foi Bolzano. Há muitos tipos diferentes de psicologismo[2], que podemos reduzir a: psicologismo lógico, no qual se fundamenta a lógica na psicologia, reduzindo-se as leis lógicas às psicológicas; psicologismo epistemológico, que faz depender a atribuição de valores de verdade às leis psicológicas; e psicologismo semântico, no qual os sentidos dos enunciados são interpretados como entidades psicológicas."
Deu pra ter uma ideia de como é a coisa. Sheldon, portanto, critica Amy por ela achar que pode reduzir toda a ciência teória e os processos da razão que são necessários à racionalidade científica a puros processo biológicos-neurológicos. Sheldon faz bem e rebate com Frege. Mas, se me for permitido extrapolar um pouco a questão, Sheldon também não é 100% perfeito: ele se esquece de que suas teorias são, em sua maioria, extremamente fisicalistas, que acabam sendo tão reducionistas quanto o psicologismo. Mas quem sabe isso ainda apareça em outro episódio da série. Fico aguardando eles abordarem o hilomorfismo aristotélico...
[1] Robert AUDI. The Cambridge dictionary of philosophy. 2nd Edition. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. p. 700. Tradução livre.
[2] Cf. Martin KUSCH. Psychologism. London: Routledge, 1995. P.108: “First of all, writers distinguished between different forms of psychologism according to the fields of philosophy and the human sciences in which psychologism needed to be combated. Thus one finds ‘psychologism’ qualified as ‘metaphysical’, ‘ontological’, ‘epistemological’, ‘logical’, ‘ethical’, ‘aesthetic’, ‘sociological’, religious’, ‘historical’, ‘mathematical’, ‘pedagogical’ and ‘linguistic’.”
1 comment:
Maravilha!Parabéns pelo blog.
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