Era uma vez uma jovem na filosofia (embora não tão jovem... na casa dos trinta!), que, após ter assistido à conferência de um amigo, teve o prazer de ir jantar com o amigo conferencista, três outros amigos e três "senhores" professores universitários.TL; DR: Não é nada (nada!) fácil para as mulheres na filosofia. Com o tempo, vai melhorando, mas nunca é fácil.Habituada a esse tipo de situação em razão de seu percurso em filosofia (a única mulher à mesa), a jovem da filosofia não se preocupava mais que o normal. Afinal, com o tempo, ela aprendeu a tomar seu lugar em um mundo de universitários homens.
Mesmo sabendo que ela talvez teria de fazer algum esforço e se impor nas discussões, a jovem da filosofia estava longe de duvidar que a situação seria tão caricatural:
Enquanto as discussões políticas iam bem, a cada vez que ela lançava um idéia, ela era habilmente ignorada. A discussão continuava como se ela não tivesse dito nada. Se não fosse um de seus amigos que, se dando conta do ocorrido, fez retransmitir regularmente suas falas, tomando o cuidado de dizer "como a jovem da filosofia acabou de dizer, [inserir aqui as ditas falas, até então ignoradas]". A intervenção masculina tendo um efeito instantâneo, a discussão prosseguia, então, levando em conta o que a jovem da filosofia havia dito.
Naquela noite, ela gostaria de ter podido filmar a cena, de tanto que o sexismo era evidente. Ela quase ria, de tanto que estava acostumada àquilo! Era uma dessas noites em que ela não tinha vontade de ter raiva, ela estava apenas um pouco cansada daquela repetição.
O jantar terminou e a noite continuou em outro tom, cheia de amizades, risos e muitas cervejas.
Nos dias que se seguiram, a jovem da filosofia contou a anedota muitas vezes, sublinhando a que ponto o sexismo era "apenas óbvio demais" naquela noite e que isso era quase engraçado.
A jovem da filosofia constatou que ela tinha adquirido ferramentas o bastante para compreender as dinâmicas em jogo durante aquele jantar e saber que não era ela o problema.
E ela estava bem orgulhosa de si mesma, de todo o seu percurso ao longo de anos, sabendo que, quando ela ainda era estudante, ela teria voltado de uma noite assim se sentindo idiota, insignificante e incapaz de ter uma conversa política inteligente. Mas hoje: não, senhora! Ela sabe que ela é inteligente e absolutamente apta a discorrer sobre o político e a política (além do mais, ela sabe muito bem qual é a diferença entre os dois! Pouco importa o que aqueles senhores teóricos da política pensam sobre isso).
Ora, nos dias seguintes, ela pensou novamente sobre esse jantar e sobre cada vez em que esse tipo de coisa lhe aconteceu: em cursos, conferências, happy hours entre companheiros de classe ou entre colegas etc.
E as inseguranças e as dores voltaram à superfície e a jovem da filosofia teve dificuldade em escrever os textos que tinha de escrever (na verdade, ela não tocou seu lápis), e ela se pôs a duvidar da pertinência de seu projeto de fazer um doutorado e...
Enfim, a jovem da filosofia constata que, apesar do caminho percorrido, essas coisas deixam cicatrizes.
Thursday, February 13, 2014
Vivência
Hoje, uma colega (Marianne Di Croce, que é professora no Cégep Saint-Jerôme) postou um texto no Facebook, que eu traduzo aqui (do francês), porque acho interessante que as pessoas entendam como é a experiência (= a vivência) da grande maioria das mulheres na filosofia:
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auto-ajuda,
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